porque os parâmetros sociais de sucesso me entediam

Ou: eu não quero vencer na vida

E daí que no domingo passado ocorreu o tal protesto pelo impeachment da Dilma, no país inteiro, em várias cidades e aparentemente ao mesmo tempo. O máximo que eu acompanhei foram os comentários no twitter, algumas atrocidades pelo facebook mas nada que me fizesse querer estar morta (pelo menos não mais do que eu já queria vendo aquele monte de gente falando abobrinha). E gente, eu não pretendo me fazer de entendida aqui, não pretendo comentar nem criticar porque eu não gosto de política, eu não me interesso por política e por mais errada que eu possa estar, eu sei que não tenho o espírito engajado dessas pessoas que conseguem mudar o mundo ou morrem tentando. Eu posso ser hipócrita, mas não a esse ponto.

Enfim… Meu ponto é que em algum ponto dessa manifestação, a da Paulista pra ser mais precisa, algum babaca arrogante e ignorante levantou a placa “vai para Miami limpar privada”. E a foto foi para nas internê e minha amiga de intercâmbio, que não só foi para Dublin mas lá ficou, conheceu um irish, casou e agora está esperando uma menina postou um desabafo raivoso dizendo que ela limpava sim privadas em Dublin, e que não tinha a menor vergonha disso. Porque ser camareira, e consequentemente limpar privadas dos quartos do hotel em que ela trabalha, proporcionava pagar o aluguel da casa dela, a gasolina do carro, viajar pelo menos três vezes mais do que ela conseguia aqui no Brasil e ainda tomar uma pint ou outra no pub – isso quando ela ainda não estava grávida -, e que era um trabalho honesto e não devia em nada para qualquer outro tipo de trabalho que ela poderia fazer.

E eu não podia concordar mais com ela, e eu não pude deixar de lembrar que eu do alto dos meus 17 anos, prestes a me formar no colegial não poderia estar mais nem aí pra faculdade, pra tirar carta de motorista nem pra “vencer na vida”. Eu que tive que aguentar minha professora de matemática me chamando de burra por não querer prestar o Enem, eu que preferi passar oito meses de pura aventura num país totalmente estranho pra mim e longe de casa tão logo eu completei dezoito anos simplesmente porque eu assim quis, porque assim meus pais deixaram (e puderam pagar) e porque eu não sabia o que estudar na faculdade e não queria escolher a esmo e por pura pressão (que vinha de todo mundo, menos dos meus pais).

Em Dublin eu fui uma adolescente que não pensa, meio rebelde e inconsequente e fiz bico limpando uma escola num dia, fui garçonete durante duas semanas e nunca fui tão feliz em toda a minha vida. Porque eu nunca quis um carro pra ficar presa no trânsito sempre caótico de São Paulo, eu nunca quis ser chefe de uma grande empresa simplesmente porque ao invés de enxergar o sucesso e o status que muitos sempre enxergaram, eu só enxergava as dores de cabeça e como nenhum dinheiro no mundo poderia comprar a minha paz.

Eu posso dizer que mudei e muito desde os meus dezessete anos até ser quem eu sou agora, minhas escolhas são as responsáveis por isso e mesmo com meus erros e as minhas burradas não posso dizer que me arrependo de nenhuma delas. Mesmo sendo completamente diferente da Alessandra de 2010, a Alessandra de 2015 ainda mantém alguns mesmos objetivos… A Alessandra de 2015 ainda prefere andar de ônibus e metrô a pedir o carro dos pais emprestado, a Alessandra de 2015 ainda não dá uma foda pra faculdade (mesmo já tendo se formado), mas quer continuar aprendendo.

Em suma, eu não quero um carro caro, uma casa gigante e roupas de marca. Eu não quero ser CEO de nenhuma empresa e ter 500 pessoas dependendo de mim e das minhas decisões.

Eu quero um emprego legal que me proporcione um salário pra um dia eu poder ter meu apê e poder escolher morar sozinha, que dê para pagar minhas contas e viajar uma vez ou duas no ano (ou mais, quem sabe?), quero um trampo onde eu me dê bem, mas não tenha que fazer nada além das minhas oito horas de trabalho e sem ninguém para encher meu saco nos finais de semana. Eu não quero vencer na vida se vencer na vida significa seguir um padrão que pra mim não faz sentido.

3 comentários sobre “porque os parâmetros sociais de sucesso me entediam

  1. Oi, Alê. Na realidade eu sempre segui esses padrões, e só atualmente é que eu fui ver que eu não quero nada disso (tenho até um post mais ou menos sobre isso pronto pro blog). Você aparentemente sempre teve uma visão muito clara das coisas, mas a maioria de nós é muito jovem pra perceber esse tipo de coisa e só vai ver isso tão “tarde” na vida que dá até aquela ~preguicinha~ de mudar. Porque ficar como está é cômodo.
    Hoje em dia eu tenho os mesmos objetivos de você e a minha faculdade (mesmo que eu não goste dela) me ajudou nisso porque se tem uma coisa que paga bem e trabalha pouco (normalmente). é concurso público, especialmente de direito. Já quis concurso grande só pelo ‘prazer'(?) de concurso grande, mas atualmente só quero passar em algo que me dê um dinheirinho suficiente e menos dor de cabeça. É meu jeito de sair da caixinha entrando na caixinha, espero que dê certo.
    Beijos.

  2. Pois é Alê…quando era novinha tb tinha varios sonhos de ser Pedagoga e ter uma escolhinha para crianças, depois ser Jornalista e viajar o mundo fazendo resportagens. Mas depois de algum tempo percebi que na verdade o que eu queria era o mesmo que vc citou: ter um bom emprego, ganhar um salário razoáel, poder viajar e comprar minhas coisinhas…e aú pergunto: quem poderá nos julgar? Cada um sabe o que lhe faz feliz e pronto. Mas se vencer na vida for se tornar CEO de empresa e trabalhar 24 horas por dia 7 dias da semana: então nem quero vencer na vida mesmo! 🙂
    Beijos

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